18 June 2008

Protegido da pressão
Barril de petróleo encosta em US$ 140 e protestos se alastram, menos nos países que subsidiam o consumo
Luís Osvaldo Grossmann
Pescadores portugueses, caminhoneiros franceses, agricultores filipinos, motoristas colombianos — a alta do petróleo, e conseqüentemente da gasolina e do óleo diesel, espalhou uma onda de protestos em vários países. Trabalhadores cobram ajuda dos governos para amenizar o impacto nos preços dos combustíveis (leia ao lado). Ontem, depois de beirar os US$ 140 por barril e ameaçar um novo recorde, o petróleo recuou para US$ 134, sem amenizar as queixas. Nos últimos cinco anos, o diesel chegou a subir 300% em alguns lugares. Para motoristas na China, Índia, Rússia e mesmo no Brasil, a grita deve parecer exagerada. Nesses países, assim como em vários outros, a ação dos governos vem amortecendo o ciclo de alta da commodity mais negociada do planeta, que desde 2002 teve seu valor multiplicado por quatro. O custo para isso pode ser alto. Na Malásia, por exemplo, o Estado destina aproximadamente 7% do Produto Interno Bruto para subsidiar o preço dos combustíveis e manter a gasolina em pouco mais de US$ 0,50 por litro. Na Índia, esse custo está entre 2% e 3% do PIB. Aos brasileiros, o governo deu um “abono” de R$ 3 bilhões para evitar reajustes nas bombas.Defasagem ainda altaApesar do benefício do subsídio concedido pelo governo aos consumidores brasileiros, permanece a ameaça de sentirem no bolso a onda do aumento do petróleo. O reajuste dos preços dos derivados aplicado pela Petrobras em 1º maio, de 10% nas refinarias, foi amortecido pela redução da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide). Mas, a defasagem entre o valor da venda interna e o do mercado internacional permanece alta, de 16% para a gasolina e 29% para o diesel, segundo analistas do mercado. Como a diferença cresce à medida que as cotações sobem, em algum momento poderá ser repassada aos motoristas. O corte de R$ 0,10 por litro de gasolina da Cide, que resultou em subsídio anual de R$ 3 bilhões, deixou os preços da gasolina estáveis no país, mas não impediu o repasse de 8,8% para o diesel. Nem assim os consumidores brasileiros reagiram, apesar de pagarem o custo maior do transporte embutido nos produtos. A justificativa do governo para o corte na Cide foi evitar contágio nos índices de inflação, já atormentados pelos alimentos. Outros que não reclamam, ainda, são os chineses, donos de uma frota de automóveis que cresce 20% ao ano. Como tem sido a marca de países onde a exploração do petróleo é feita por estatais, lá o governo manda segurar os preços ao consumidor. Como a China é próspera — já é a quarta maior economia do mundo — calcula-se que o subsídio coma menos de 1% do PIB do país. Na Índia, que este ano autorizou também um reajuste de 10%, o sistema é o mesmo. Com rápido crescimento — os emergentes responderam por toda a elevação no consumo do ano passado — os países com subsídios são acusados de piorar a situação. Ao não repassarem o custo real do combustível, incentivam seus motoristas a consumir. Onde os aumentos acompanham as cotações, o consumo cai e as pessoas protestam. Na análise do banco Barclays, o fim dos subsídios não teria o efeito desejado. Os benefícios representam uso menos eficaz dos recursos e sua retirada daria maior dinâmica à economia. Conseqüentemente, acabaria por elevar ainda mais o consumo. (LOG) Reações em vários lugares A reclamação contra a alta dos combustíveis chegou à América Latina com caminhoneiros da Colômbia, que começaram uma greve por tempo indefinido. Calcula-se em 145 mil o número de veículos de carga parados pelo protesto, o que levou o governo de Álvaro Uribe a aceitar uma reunião com os grevistas. A bronca é semelhante ao que se vê do outro lado do Altântico. Na França, caminhoneiros voltaram a bloquear estradas ontem — mas já tinham se aliado a colegas espanhóis, no início do mês, para fecharem a fronteira dos países. Na Inglaterra, uma greve dos motoristas de caminhões-tanques deixou metade dos postos da Shell sem combustível. Em Portugal, Espanha, Itália e Bélgica foram pescadores quem desencadearam reclamações contra o preço do óleo diesel. No extremo oriente, operários coreanos engrossaram o coro dos motoristas e espalharam a greve de protesto à construção civil. Na Tailândia, os caminhoneiros cruzaram os braços na semana passada, mas ameaçam retomar o movimento, semelhante ao que acontece nas Filipinas. Os descontentes querem ações dos governos que façam frente à escalada de preços do petróleo. Em geral, muitos citam países onde essa intervenção existe e exigem a adoção de algum tipo de subsídio ou o corte de taxas que incidem sobre os combustíveis. Há exemplos de sobra. Uma estimativa feita pelo banco Morgan Stanley sugere que metade da população do planeta é beneficiada por algum tipo de subsídio sobre combustíveis. Isso implica, segundo o banco, em que um quarto de todo o petróleo seja vendido por preço abaixo do mercado. Naturalmente, quase nenhum país chega ao ponto da Venezuela, onde o litro da gasolina custa o equivalente a US$ 0,05, mas também estão longe do padrão alemão, de US$ 2,35 por litro. Como resultado, mesmo aquelas nações que fizeram reajustes recentes ainda conseguem fazer o combustível chegar ao consumidor com valores mais baixos. Na Indonésia, que no fim de maio corrigiu os combustíveis em 30% no primeiro reajuste desde 2005, a gasolina ainda custa US$ 0,65 por litro. Na China, houve aumento de 9% em novembro de 2007, mas também ali o valor ainda é baixo na comparação internacional, a US$ 79 por litro. (LOG)

No comments:

Google