01 May 2008

Jornal do Brasil Relatório atualiza os números do terrorismo
Quase sete anos depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, a Al Qaeda continua sendo a maior ameaça terrorista aos EUA e seus aliados, de acordo com um relatório de 312 páginas do Departamento de Estado, divulgado ontem. O levantamento de tendências e incidentes terroristas em 2007 diz que a Al Qaeda usa áreas tribais do Paquistão para reconstruir sua liderança e "utiliza o terrorismo, bem como a subversão, a propaganda e a guerra aberta; busca armas de destruição em massa a fim de infligir o máximo dano possível sobre quem quer que atravesse seu caminho".
Houve uma ligeira redução global no número de atentados terroristas em 2007 em relação a 2006 – de 14.570 para 14.499. O número de vitimas fatais, porém, subiu de 20.872 para 22.685. Os ataques reivindicados pela Al Qaeda mataram ou feriram 5.400 civis, sendo 2.400 crianças, e os muçulmanos foram mais de 50% das vítimas do grupo de Osama bin Laden.
No Iraque, o número de incidentes caiu de 6.628 para 6.212. Mas o país continua sofrendo 45% dos atentados, com 60% das vítimas fatais do terrorismo no mundo. No Afeganistão, os atentados subiram de 969 para 1.127. No Paquistão, o aumento foi de quase 100%.
Dell Dailey, coordenador do Escritório de Contraterrorismo do Departamento de Estado, disse que a Al Qaeda está "mais fraca do que estava" em 11 de Setembro, e que isso seria, em parte, resultado das ações armadas dos EUA.
A lista de países acusados de patrocinar o terrorismo – Cuba, Irã, Coréia do Norte, Sudão e Síria – continua a mesma. Sobre a Venezuela, o relatório afirma que Chávez "aprofundou as relações com Irã e Cuba e demonstra simpatia pelas Farc".
Jornal do Brasil Colisão de barcos mata cinco e fere nove
Cinco pessoas foram mortas e nove ficaram feridas – sendo duas em estado grave – quando dois barcos colidiram ontem à noite em Sydney Harbor, na Austrália. A polícia acredita que os mortos e feridos estariam no menor dos dois barcos, e que não há desaparecidos. Uma das médicas de emergência descreveu por rádio a cena como "extremamente difícil". Acrescentou que a maioria das vítimas eram jovens, e cinco conseguiam andar. Autoridades investigam o acidente.
O Estado de São Paulo Helicóptero cai perto de condomínio de luxo em Paraty
TALITA FIGUEIREDO
RIO - Um helicóptero caiu perto da Praia de Laranjeiras, em Paraty, no Sul Fluminense, por volta das 20 horas de ontem. O piloto morreu, e o co-piloto foi procurado até o fim da noite de ontem, mas não foi encontrado. Equipes da Capitania dos Portos auxiliaram nas buscas, suspensas por causa do mau tempo. Novas buscas estavam previstas para as 6 horas de hoje.
De acordo com a Polícia Militar, o helicóptero havia acabado de deixar uma família no condomínio de luxo Laranjeiras. Eles retornavam para o Rio, quando ocorreu o acidente. Na hora da queda, chovia em Paraty, mas as causas do desastre só serão conhecidas depois de perícia da Aeronáutica. Até o fim da noite de ontem, o nome do piloto e do co-piloto não haviam sido divulgados.
O Estado de São Paulo Brasil já é grau de investimento
Leandro Modé, Nélia Marquez e Ricardo Leopoldo
A agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P), considerada a mais importante do mercado financeiro, promoveu ontem o Brasil ao chamado grau de investimento. Isso significa que, de acordo com essa agência, o País é um porto seguro para investidores do mundo todo. Por isso, a notícia foi recebida com euforia pelos mercados e pelo governo.
O Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) disparou 6,33%, para 67.868 pontos, novo nível recorde. O dólar despencou 2,52%, para R$ 1,663, em resposta à expectativa de que o Brasil atrairá mais investimento externo daqui para frente.
Em discurso durante evento em Maceió, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva celebrou a novidade. “É uma conquista do povo brasileiro, que esperou por isso durante tantos e tantos anos”, disse. Para ele, o novo status do País tem um significado a mais. “É o aval de que passamos a ser donos do nosso nariz.”
A S&P elevou a nota do Brasil de BB+ para BBB-. A escala da agência vai de AAA (concedido a países como Estados Unidos, Canadá e Reino Unido) até D (conceito para países insolventes).
A analista da S&P responsável pelo Brasil, Lisa Schineller, afirmou que o grau de investimento reflete o bom nível da política econômica, caracterizado por uma postura “pragmática”, especialmente na manutenção da solidez das contas públicas e liberdade para que o Banco Central (BC) continue combatendo a inflação com rigor.
“A política econômica pragmática indica que o Brasil tem uma perspectiva de crescimento mais forte no futuro, que deve ser sustentável”, comentou. Para ela, a tendência de crescimento da economia brasileira dá condições para que o País tenha credibilidade para financiar seu déficit nas transações com o exterior. Segunda-feira, o BC divulgou que o buraco nas contas externas do País atingiu US$ 10,7 bilhões no primeiro trimestre.
As agências de risco são contratadas por empresas e governos do mundo todo para avaliá-los do ponto de vista de solvência. As três principais são S&P, Moody’s e Fitch. Todas têm sido duramente criticadas por causa de sua atuação na crise das hipotecas (subprime) dos Estados Unidos. Para muitos analistas e investidores, elas não avaliaram corretamente o risco desses bônus, que acabaram virando pó e provocaram prejuízos bilionários.
O rating brasileiro que a S&P mudou ontem é o chamado soberano, que diz respeito à capacidade de o governo honrar o pagamento dos títulos que emite - neste caso, em moeda estrangeira.
Apesar do clima de otimismo, alguns analistas afirmaram que o governo não deve se acomodar com o grau de investimento. “(A nota) é um ponto de partida, não um destino final”, alertou o economista-chefe do banco Morgan Stanley, Marcelo Carvalho. Até porque, lembram outros especialistas, já houve países que perderam o grau de investimento, caso da Colômbia.
O Estado de São Paulo Setor público tem superávit recorde
Alta da arrecadação garante resultado primário de R$ 43,03 bi no 1º trimestre, com saldo nominal de R$ 3,04 bi
Adriana Fernandes e Fernando Nakagawa
No dia da comemoração do grau de investimento, o Banco Central (BC) anunciou ontem que, pela primeira vez, as contas do setor público (governo federal, Estados, municípios e empresas estatais) apresentaram um superávit nominal de R$ 3,04 bilhões no primeiro trimestre do ano.
Um dos principais indicadores de solidez fiscal de um País, o superávit nominal é alcançado quando a arrecadação é suficiente para cobrir as despesas, pagar os juros sobre o endividamento público e, com isso, possibilitar a redução da dívida.
O mesmo ocorre quando um trabalhador consegue, com o salário, pagar as suas despesas, investir e cobrir os juros da dívida com o banco. A sobra ele usa para abater o estoque dívida. Foi também o que aconteceu com as contas públicas: a dívida líquida do setor público caiu de 42,2% para 41,2% do Produto Interno Bruto (PIB) de fevereiro para março. Em reais, a dívida ficou em R$ 1,14 trilhão no fim do mês passado.
O desempenho inédito das contas públicas foi obtido graças às receitas recordes do governo federal que, mesmo com o fim da CPMF, superaram em R$ 22,2 bilhões o volume arrecadado no primeiro trimestre do ano passado. Por outro lado, as despesas cresceram em volume bem menor: R$ 4,8 bilhões. Esse desempenho garantiu o superávit primário (receitas menos despesas, antes do pagamento de juros) recorde de R$ 43,03 bilhões de janeiro a março, ou 6,39% do PIB.
O superávit primário das contas públicas foi apontado pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s como fundamental para conceder o grau de investimento ao País.
Em março, o superávit primário do setor público foi de R$ 15,4 bilhões - valor também recorde para o mês. O resultado do primeiro trimestre assegurou um superávit primário em 12 meses até março de 4,46% do PIB, o maior desde outubro de 2005 e bem acima da meta de 3,8% do PIB fixada em lei para as contas do setor público em 2008.
Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, a tendência ao longo do ano é de que o superávit acumulado em 12 meses convirja em direção à meta de 3,8%. Segundo ele, o atraso na aprovação do Orçamento da União ajudou no superávit, porque reduziu as despesas.
Altamir ressaltou que, tradicionalmente, os gastos são menores no primeiro trimestre. “Tivemos um resultado bastante positivo de 4,46% do PIB. Ele abre uma boa perspectiva para cumprimento da meta. Acumulamos uma gordura para atingir a meta sem dificuldade.”
Bem-humorado com a quantidade de recordes nas contas públicas no primeiro trimestre, ele destacou a importância da redução de 1 ponto porcentual na relação entre dívida líquida do setor público e o PIB de fevereiro para março, que poderá fechar em 41,3%.
Apesar do ano eleitoral, Altamir disse não esperar uma deterioração das contas do Estados e municípios como ocorria no passado. “Antes da Lei de Responsabilidade Fiscal, havia mais gastos. Depois, essa história mudou.” O superávit primário dos Estados e municípios foi recorde para o trimestre.
Para o professor do Instituto de Economia da Unicamp, Francisco Lopreato, o forte resultado das contas públicas é resultado principalmente da melhor dinâmica da economia. “O crescimento do PIB está impulsionando a arrecadação há alguns anos”, disse Lopreato.
Ele observou, porém, que o aperto monetário iniciado em abril pelo BC e a desaceleração da economia global podem frear o crescimento, diminuir a arrecadação e trazer números menos exuberantes.
O Globo Feriadão com muita chuva e urubus na praia
Mau tempo traz línguas negras, causa acidentes de trânsito e congestionamentos por toda a cidade
A frente fria que chegou à cidade, trazendo chuvas e ventos fortes, deixou dois cartões-postais do Rio irreconhecíveis: dezenas de urubus ocuparam a areia das praias do Leblon e Ipanema. Não foi o único ponto da orla que sofreu: em São Conrado e Copacabana apareceram as costumeiras línguas negras. A paisagem não deve melhorar nesse feriadão. A previsão é de que tempo fique nublado com chuvas ocasionais e a temperatura deve cair ainda mais em todo o estado. A mínima prevista no Rio é de 17 graus hoje e a máxima, 27 graus.
Na altura das ruas Souza Lima e Santa Clara, uma enorme mancha preta tomou conta da areia, dando muito trabalho aos garis da Comlurb, que passaram a manhã limpando aquele trecho da praia. Manchas de óleo também foram vistas na Enseada de Botafogo e na Marina da Glória. No Leblon, água poluída saía do Canal da Visconde de Albuquerque em direção ao mar.
A chuva deixou o trânsito bastante confuso na cidade e também atrapalhou a operação dos catamarãs que fazem a travessia Praça Quinze-Charitas. Às 17h10, as Barcas S.A., diante da informação da Capitania dos Portos de que poderia haver ondas de três metros de altura na Baía de Guanabara, suspendeu as operações até as condições do mar melhorarem. Na semana passada, houve um acidente com um catamarã, atingido por ondas gigantes. As ligações Praça XV- Praça de Araribóia e Praça 15 - Ilha do Governador não sofreram interrupções.
Por causa das pistas molhadas e escorregadias, foram registrados vários acidentes, principalmente pela manhã. Só na Avenida Brasil foram dois: em Bangu, no sentido Centro, um carro derrapou na pista lateral e bateu num ponto de ônibus, deixando o motorista levemente ferido. Já na altura de Guadalupe, um veículo rodou na pista lateral, sentido Zona Oeste, e bateu na mureta. Ninguém ficou ferido. Na Linha Amarela, um motorista perdeu o controle do carro e atingiu um poste na pista lateral da via, no sentido Barra da Tijuca, na altura de Bonsucesso. Ele ficou preso nas ferragens e foi resgatado pelos bombeiros. Na Linha Vermelha, um acidente entre um carro e uma moto complicou o trânsito no sentido Centro.
Por causa dos acidentes e da pouca visibilidade, a saída de casa para o trabalho pela manhã foi complicada em quase todos os pontos da cidade. Na Zona Sul, várias ruas de Botafogo ficaram alagadas e bolsões de água atrapalharam o tráfego no Aterro do Flamengo, na Rua Jardim Botânico e na Avenida Borges de Medeiros, na Lagoa. A Avenida Atlântica também esteve engarrafada durante boa parte da manhã. No Centro, a Avenida Presidente Vargas ficou congestionada, no sentido Candelária, principalmente na altura da Central do Brasil. Em pane, os sinais luminosos da Rua Benedito Hipólito, na Cidade Nova, ficaram apagados.
O mau tempo também prejudicou as operações no Aeroporto Internacional Tom Jobim, e no Aeroporto Santos Dumont, que passou a manhã fechado para pousos de decolagens, segundo a Infraero. Até às 16h de ontem, os dois operavam por instrumentos.
Apesar do mau tempo, a Defesa Civil municipal não registrou nenhum caso grave. Das 7 às 17h de ontem, o órgão registrou 33 ocorrências. Os bairros com o maior número de solicitações foram Tijuca, Botafogo, Urca, Realengo e Santa Cruz. A Defesa Civil permanecerá em alerta.
Ontem, a temperatura mínima registrada pelo Inmet na capital foi de 19,2 graus no Alto da Boa Vista e a máxima foi de 26,6 graus na Vila Militar.
O Globo Após 3 anos, gasolina subirá 10% nas refinarias
Petrobras sai vencedora. Governo corta imposto para evitar reajuste do combustível no posto, mas diesel deve subir 8,8%
Mônica Tavares, Gerson Camarotti, Ramona Ordoñez e
BRASÍLIA e RIO. Após quase três anos de congelamento, o governo autorizou ontem um reajuste, nas refinarias, de 10% no preço da gasolina - como queria a Petrobras - e de 15% no do óleo diesel. Não haverá impacto para o consumidor no caso da gasolina, garantiu o ministro da Fazenda, Guido Mantega, porque, para neutralizar o reajuste, o governo está abrindo mão de R$2,5 bilhões a R$3 bilhões por ano na arrecadação da taxação sobre combustíveis. No diesel, o impacto será de 8,8% na bomba, estima o governo.
O aumento no preço das refinarias para as distribuidoras começa a vigorar amanhã. O gás de cozinha, que não sobe desde 2002, não terá reajuste.
O impacto zero na gasolina foi possível graças à redução, de R$0,28 para R$0,18 por litro, da Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico (Cide). Já no diesel a Cide caiu de R$0,07 para R$0,03 por litro. A alta do produto na bomba poderá ser maior em alguns estados, dependendo da alíquota do ICMS. Sem contar que o preço é livre no varejo.
- A Cide foi criada não como um tributo arrecadatório, mas para regular os preços. Quando o preço da gasolina sobe, você baixa a Cide, e quando ele desce, ela sobe. Estamos fazendo exatamente isso, baixando a Cide de modo que o efeito do aumento da gasolina seja zero para o consumidor - disse Mantega.
O vice-presidente do Sindicom (sindicato das distribuidoras), Alísio Vaz, destacou que foi a primeira vez que o governo usou a Cide como o instrumento para o qual foi criada, ou seja, intervir nos preços para evitar impacto ao consumidor.
Professor da UFRJ teme aumento nos postos
O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse que a redução da Cide foi a melhor solução para o impasse nos últimos dias: a necessidade de aumentar o valor dos combustíveis sem impactar a inflação. Havia pressão do presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, para um índice de pelo menos 10%. Mas a equipe econômica resistia. Lula havia autorizado um máximo de 5%, para diluir o impacto nas bombas. Com a insistência de Gabrielli, Lula deu sinal verde para que se buscasse uma alternativa. O governo concluiu que o aumento de 5% seria insuficiente para Petrobras.
- Vamos ficar atentos para não subir na bomba o preço da gasolina. A ordem é fiscalizar. Não há motivo para reajuste - advertiu Lobão.
O reajuste do diesel terá impacto menor na inflação, segundo estudos do governo. Perguntado se o reajuste de 8,8% na bomba não afetaria o setor produtivo, Lobão foi categórico:
- Tudo foi analisado pela Fazenda, e ela diz que não vai ter impacto na inflação.
A renúncia fiscal não sofre qualquer restrição legal. Ocasionalmente há desonerações tributárias, como as que serão anunciadas no dia 12, no bojo da nova política industrial.
- A Petrobras vai devolver o aumento com lucros e dividendos - disse Mantega.
A queda da Cide não será sentida apenas pelo governo federal: estados e municípios têm direito a 29% da arrecadação. Mas, segundo o secretário da Receita, Jorge Rachid, não haverá necessariamente perda de receita, pois a arrecadação com o ICMS sobre os combustíveis na refinaria será maior.
Distribuidoras e postos afirmaram que, se o governo realmente reduzir a Cide, os consumidores não verão qualquer aumento de preço na gasolina. O Sindicom calculou que a gasolina vendida nas refinarias, sem impostos, passaria de R$1 para R$1,10 o litro, mas a Cide será reduzida em R$0,10. O diesel deverá aumentar para os consumidores em 8,3%, segundo o Sindicom, que também prevê perda maior de arrecadação para o governo: R$3,4 bilhões anuais, sendo R$1 bilhão para estados e municípios.
O presidente do Sindicomb (que reúne os varejistas de combustíveis no Rio), Manuel Fonseca, disse que os postos só farão repasses se receberem aumentos das distribuidoras. Mas o professor Helder Queiroz, da UFRJ, acredita que pode haver aumento nos postos:
- O setor de distribuição e revenda não está acostumado com isso, e é necessário esperar o que vai acontecer.
O especialista Adriano Pires Rodrigues, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), calculou que os aumentos vão reduzir praticamente à metade a atual defasagem em relação dos valores internacionais. A diferença cairia de 22% para 12% na gasolina, e de 30% para 15% no diesel. Um analista de um grande banco estima a defasagem da Petrobras entre 5% e 10%.
Segundo Pires, a Petrobras reduzirá em R$500 milhões suas perdas com a defasagem dos preços em maio. Sem o reajuste, perderia R$1 bilhão. Em relatório divulgado anteontem, o Bradesco estimou que, sem reajuste, a Petrobras estava perdendo R$6,5 bilhões anuais.
COLABORARAM Erica Ribeiro e Martha Beck
O Globo 'As negociações com as Farc tiveram erros'
Ex-presidente da Colômbia César Gaviria diz que na última missão para resgatar Ingrid houve falha de comunicação
Leonardo Valente
César Gaviria foi presidente da Colômbia entre 1990 e 1994 e secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) entre 1994 e 2004. Economista, liderou durante seu governo uma ampla mudança institucional no país que resultou na reforma do Judiciário e em uma nova Constituição. Também ficou conhecido internacionalmente por sua política de defesa dos direitos humanos. Ingressou na política aos 23 anos e foi deputado e ministro de governo por duas vezes, assumindo as pastas das Finanças e do Interior. Atualmente, é líder do Partido Liberal colombiano e se diz cada vez mais distante do governo de Alvaro Uribe. No Rio, participou ontem do lançamento da Comissão Latino-Americana sobre Drogas e Democracia, da qual é co-presidente.
Os últimos meses foram marcados pela libertação de alguns reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), como Clara Rojas, Consuelo González e Luis Eládio Perez, mas também pelo fracasso na tentativa de se libertar a ex-senadora Ingrid Betancourt. Como o senhor avalia as últimas tentativas de negociar reféns com a guerrilha?
CÉSAR GAVIRIA: A crise humanitária dos reféns em poder das Farc se torna cada dia mais urgente e, não há dúvidas, é uma prioridade, não só para a Colômbia mas para a comunidade internacional. As negociações com a guerrilha tiveram até então muitos pontos de acertos, caso contrário não teríamos reféns libertados, mas também alguns erros. Mas é importante ressaltar que é normal que, ao se negociar com guerrilheiros, erros sejam cometidos, pois o comportamento deles muitas vezes oscila.
No caso da última tentativa de se libertar Ingrid, que erros o senhor aponta como os que teriam contribuído para o fracasso da missão?
GAVIRIA: O grande problema da última missão para resgatar Ingrid Betancourt foi a falta de comunicação dos envolvidos com as Farc. Não se poderia esperar o sucesso da operação sem que a guerrilha se demonstrasse disposta a colaborar. Criaram-se grandes expectativas, esperanças por parte dos parentes, especulações da imprensa e da opinião pública, e nada aconteceu. Isso gera uma frustração muito grande. Mas tudo isso poderia ter sido evitado, pois a falta de informação já nos dava um desfecho para aquela missão. Esse, eu acredito, foi o pior erro.
Vários países já se ofereceram para ajudar nas negociações de libertação dos reféns, e alguns, como a França, já participam ativamente das negociações. Na sua opinião, a participação de outros países ajuda ou atrapalha nas negociações?
GAVIRIA: Sem dúvida, ajuda. O papel exercido pela França e por outros países da União Européia tem sido muito importante. Creio também que a participação de países vizinhos, especialmente do Brasil, pode ser fundamental nas negociações com a guerrilha. O Brasil tem um papel importante na América do Sul, tem peso, e isso ajudaria na busca por uma solução negociada. A Colômbia tem muita dificuldade em trabalhar sozinha com a guerrilha, quase todas as vezes em que isso aconteceu o resultado não foi exitoso. É preciso que outros mediadores participem desse processo.
Como o senhor avalia a participação do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, nessas negociações?
GAVIRIA: O presidente Hugo Chávez tem uma relação respeitosa com as Farc, e isso, sem dúvida, tem contribuído para a libertação de reféns. As relações entre Colômbia e Venezuela, apesar dos atritos pontuais, são muito importantes para ambos os países, tanto comercialmente como estrategicamente. E isso deve ser levado em conta.
Como o senhor avalia a recente crise entre Colômbia, Equador e Venezuela, por causa da operação militar colombiana, em território equatoriano, que matou o guerrilheiro Raúl Reyes?
GAVIRIA: Precisamos levar em conta que as operações das Farc no Equador são um fato verdadeiro e representam um perigo, tanto para a Colômbia quanto para toda a região. Por isso, acredito que era necessária a operação. Só não concordo com a forma como ela foi feita. Alguns erros cometidos, como a falta de diálogo com as autoridades equatorianas e a falta de habilidade em se justificar a operação, resultaram nessa crise com o Equador. Mas não podemos fechar os olhos para as operações da guerrilha naquele país.
Se o senhor fosse o atual presidente da Colômbia, agiria da mesma forma que Uribe em relação ao tema?
GAVIRIA: É sempre muito complicado se colocar na posição de presidente, mesmo quando já se esteve no cargo. O que posso dizer é que provavelmente eu também apoiaria uma ação militar contra os guerrilheiros. Mas o faria de forma diferente, mais habilidosa diplomaticamente para se evitar uma crise de grandes proporções, como a que aconteceu recentemente.
O senhor está no Brasil para participar do lançamento da Comissão Latino-Americana sobre Drogas e Democracia. A questão das drogas na Colômbia tem relação direta com as Farc. Combater o narcotráfico é também combater a guerrilha, ou o lado ideológico das Farc ainda é mais forte que o lucro das drogas?
GAVIRIA: O problema do narcotráfico é hoje crucial na Colômbia, creio que ainda mais importante que no resto da América do Sul. Não há dúvidas de que são as drogas que abastecem os guerrilheiros. Graças a elas, eles conseguem dinheiro, recursos para sobreviverem na selva e armas. Combatendo o narcotráfico estaremos combatendo também as Farc, que não sobrevivem mais de ideologia. Mas o combate ao narcotráfico não se restringe a um só país. É preciso também que o consumo da droga nos grandes mercados seja combatido.
O Globo Sem consenso sobre reféns
França é otimista mas Uribe veta mediação
CARACAS e BOGOTÁ. O ministro francês das Relações Exteriores, Bernard Kouchner, disse hoje após um encontro em Caracas com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que confia em uma "solução próxima" para a libertação dos reféns em poder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). A declaração, no entanto, foi dada pouco depois de o presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, descartar novas intermediações internacionais com a guerrilha.
Kouchner, em tom otimista, fez questão de afirmar que sua viagem a Caracas foi "muito proveitosa" e que tratou da questão dos reféns, mas especialmente da ex-senadora franco-colombiana Ingrid Betancourt.
- Creio, quero crer, e desejo que o desfecho deste caso doloroso esteja próximo e seja feliz - disse.
Já em Bogotá, Uribe fez questão de afirmar que permitir novas mediações na questão dos reféns seria "correr riscos desnecessários".
- Temos a preocupação pertinente de evitar novos desgastes e riscos internacionais. Por isso, descartamos qualquer outro tipo de mediação nas negociações (com as Farc) - disse o presidente.
O Globo Espera tensa na Bolívia
Às vésperas do referendo de autonomia de Santa Cruz, opiniões se dividem na região
Soraya Aggege
A Igreja Católica pede paz em cada esquina da cidade de Santa Cruz de la Sierra, nas rádios, em faixas e cartazes. Mas, a quatro dias do referendo sobre a autonomia do departamento de Santa Cruz, são ignorados até os apelos da Organização dos Estados Americanos (OEA), que está em missão na Bolívia para evitar um confronto. Por todas as ruas centrais se agitam bandeiras e buzinas pelo sí no referendo - organizado pelo governo local e rechaçado pelo central - enquanto que nas periferias se organizam "quartéis generais" pelo no.
Pelo sí ou pelo no, em Santa Cruz muitos grupos falam em defender suas posições com o "próprio sangue". Tanto que o governo central decretou, anteontem à tarde, o recolhimento de armas de todos os civis na Bolívia.
- Há um acirramento, uma ameaça de violência da União Juvenil Cruzenha (UJC) e do Comitê Cívico, e alguns até começam a recuar. Mas nós não temos medo. Defenderemos nossas posições, mesmo que haja necessidade de derramarmos nosso próprio sangue - disse ao GLOBO Esteban Alavi, da Federação Sindical de Colonizadores, que organiza protestos contra o referendo.
- Não adianta decretarem o recolhimento das armas. Não temos armas que possam ser recolhidas. Nossa arma é a democracia, que será garantida - reagiu o vice-presidente da UJC, Luiz Vaca Pinto, que participava da manifestação pelo sim ontem à noite.
Pesquisas indicam vitória do 'sim'
Ontem eram esperadas mais de 300 mil defensores da autonomia na manifestação, centralizada em El Cristo, monumento do centro da cidade. A manifestação, organizada pelo líderes civis de Santa Cruz, coordenados pelo prefeito (governador) da província, Rubén Costas, marcou o encerramento da campanha pelo "sim" no referende domingo. A votação é considerada ilegal pela Corte Nacional Eleitoral, mas mesmo assim deve contar com a participação de quase um milhão de eleitores. Pesquisas locais indicam que mais de 70% querem a autonomia. O governo central, porém, diz que o estatuto não tem qualquer validade.
Hoje os opositores do referendo prometem misturar as celebrações do 1º de Maio com sua campanha, a partir das 9h. As ameaças de violência fizeram com que a Confederação Indígena de Bolívia (Cidob), ligada ao MAS do presidente Evo Morales, cancelasse uma marcha de 10 mil pessoas que chegaria a Santa Cruz domingo.
- Suspendemos a marcha porque haveria enfrentamentos, inclusive no caminho para Santa Cruz, pelo que apuramos. Não queremos confrontos violentos. Mas não aceitaremos o referendo. Entre os dias 8 e 11 de maio, faremos uma grande assembléia indígena em Santa Cruz, para definir formas de barrar a autonomia, que é racista e discriminatória - disse o vice-presidente da Cidob, Pedro Nuni.
Para o deputado do MAS Raúl Pardo, mesmo com essa decisão, muitos marcharão até Santa Cruz por causa do 1º de Maio:
- Vamos nos manifestar pelo Dia do Trabalho também, e por isso tudo será muito tranqüilo. Não creio que haja violência.
Indígenas afirmam ser nações à parte
Segundo o Censo de 2001, 59% da população boliviana (4,7 milhões) é composta por pobres, cerca de 61% são indígenas (a maioria quéchua e aimará) e há departamentos, como Potosí, onde a pobreza atinge 80% da população. Em Santa Cruz, porém, os números se invertem: a pobreza atinge 38% da população e os indígenas não passam de 40%, a maioria guaranis. Para a maioria dos indígenas, aceitar uma autonomia de Santa Cruz significaria perder todos os repasses públicos provenientes da arrecadação de seu departamento mais rico.
- Somos pela não participação no referendo, porque, primeiramente, ele é inconstitucional. Além disso, o estatuto da autonomia não respeita os direitos indígenas. Tratam-nos como comunidades e, na verdade, somos nações indígenas, com cultura própria. Somos inclusive a maioria no país, mas eles querem ser a máxima autoridade, desrespeitando aqueles que vivem nas terras altas - disse Nuni.
Os grupos que defendem a autonomia de Santa Cruz afirmam que não há nenhuma possibilidade de a autonomia ser descumprida:
- Santa Cruz é o departamento que mais produz em toda a Bolívia. Não é justo que repassemos quase toda a nossa arrecadação e fiquemos sem saúde pública, educação, serviços básicos. Isso não é democracia. Queremos autonomia e democracia. Os indígenas estão incluídos em nosso estatuto, que prevê uma representação para eles - disse Luiz Vaca Pinto.
O dualismo político se manifesta em cada esquina de Santa Cruz. Muitos indígenas apóiam a autonomia. É o caso de Pablo Sanchez:
- Não é possível que continuemos assim. Tudo é difícil na Bolívia por causa da centralização. Até para tirar documentos é preciso ir até La Paz.
Juan Spinoza discorda:
- Querem é concentrar mais o dinheiro arrecadado com o gás, o petróleo e a agropecuária com os ricos. Vivo em Santa Cruz e não vejo nenhum problema com a centralização. O que falta aqui são salários melhores.
Para Costas, depois do referendo "nascerá uma nova República, uma Segunda República não centralista".
O Globo EUA preocupados com Irã na América Latina
Departamento de Estado destaca aumento de influência do país sobre Bolívia, Nicarágua e Venezuela
José Meirelles Passos
WASHINGTON. O informe anual sobre terrorismo, divulgado ontem pelo Departamento de Estado, deixa patente a grande preocupação do governo americano com o que considera uma presença cada dia mais marcante do Irã na América Latina. Os EUA receiam que essa maior aproximação resulte em apoio à atividades terroristas na região.
"O governo do Irã iniciou recentemente esforço para expandir laços comerciais e diplomáticos" na região, diz um trecho do documento. E na frase seguinte instila suspeição: "O Irã utilizou, no passado, missões diplomáticas para apoiar atividades de agentes do Hezbollah".
O informe contém várias menções à presença do Irã que, no documento, é definido como "o mais ativo patrocinador de terrorismo do mundo". A Bolívia é citada como um provável foco: "Com instabilidade política, frágil e flutuante estrutura legal, crescente cultivo de coca e a abertura de relações diplomáticas com o Irã, a Bolívia mostra um novo potencial como um possível local para atividades terroristas", diz o relatório.
Segundo ele, o Irã fornecerá uma ajuda de US$1,1 bilhão ao governo boliviano nos próximos cinco anos. E "a Bolívia recebe contínuo apoio médico e de inteligência de Cuba" - país também classificado pelos EUA (junto com Irã e Síria) como patrocinador de terrorismo.
Tríplice Fronteira seria usada para atividades ilícitas
Nicarágua, Venezuela e a Tríplice Fronteira (onde se encontram Argentina, Brasil e Paraguai) seriam os outros pólos de operações iranianas suspeitas. Os EUA ressaltam que ao assumir, em janeiro, o presidente Daniel Ortega "restabeleceu laços diplomáticos formais com o Irã". Os EUA também mencionam como suspeito o fato de Ortega "ter buscado agressivamente expandir relações com Cuba e Venezuela".
Ao se referir à Venezuela, o informe diz que o presidente Hugo Chávez "aprofundou relações com países patrocinadores de terrorismo, Irã e Cuba", e que ele tem "simpatia ideológica" com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, grupo guerrilheiro que o governo americano classifica como terrorista.
"Em março, Irã e Venezuela começaram vôos semanais da Iran Airlines ligando Teerã e Damasco (Síria) a Caracas. Passageiros nesses vôos não são sujeitos a controle de imigração e alfândega no Aeroporto Simón Bolívar", diz o informe. Quanto à Tríplice Fronteira, ele diz que, embora não haja células terroristas ali, a área é utilizada por eles para "uma ampla gama de atividades ilícitas e para solicitar doações das grandes comunidades islâmicas na região e em outras localidades da Argentina, Brasil e Paraguai".

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